Dando continuidade a esta bela declaração de amor a Francisco Santos do poeta e escritor João Bosco da Silva. Publicamos o quinto canto: O RIO.
O RIO
O RIO
I
Senhor de muitos destinos,
redentor de muitas vidas,
sabor de vinhos suaves
brotando em terras curtidas,
receptáculo das chuvas
que vêm em gotas medidas,
teu elixir temporário
dessedenta o meio agrário!
II
Se o "Velho Chico" era o rio
da união nacional,
tinha o Riachão pra nós
importância capital:
- salvação de homens e bichos
com o seu manancial,
propiciando trabalho
na rica safra do alho!
III
Nascido filete apenas,
em pequenas corredeiras,
nas terras de Pio IX
tem as suas cabeceiras,
onde já foi construído
o açude Cajazeiras,
que dá verde à natureza,
num oásis de riqueza!
IV
E abre caminho, formando
o vale do Riachão,
banhando vilas, cidades,
requeimadas do sertão,
enriquecendo de húmus
as terras de aluvião,
valente, bravo, veloz,
para chegar até nós!
V
Em chegando, é reforçado
por riachos que recebe,
pequenos, médios e grandes,
cujas águas todas bebe,
e vai correndo ligeiro,
por entre cercas e sebes,
tudo levando de eito,
enlarguecendo seu leito!
VI
Lembro-me bem desse rio
de memoráveis enchentes,
descendo com seus roldões,
em verdadeiras torrentes;
riacho de Mané João,
mais um de seus afluentes,
estrondeava e rugia,
chega a casa estremecia!
VII
As enchentes muito grandes
davam gosto de se ver,
embora metessem medo,
pois podia acontecer
de derrubarem as cercas
e o gado também descer
nos "balseiros" da enxurrada,
sem se poder fazer nada!
VIII
No rastro dessas enchentes,
surpresas se constatavam:
- se os entulhos das vazantes
as águas não arrastavam,
o rio formava "ilhas"
e as margens se deslocavam,
abrindo crescidas fossas
no barro mole das roças!
IX
Por outro lado, deixavam
fertilíssimos insumos:
- folhas secas e granitos,
paúis, adubos, estrumos
que vinham fertilizar
o barro preto de húmus,
que produz o milho bom
e o pasto do mesmo tom!
X
Chegando no mês das flores,
o inverno já por um fio,
sem mais perigo de enchentes,
rasas as águas do rio,
o lavrador vem da serra
para fazer o plantio
do alho em suas vazantes,
com um carinho de amantes!
XI
Tal como as demais culturas,
as perdas provocam medos,
mas bastam poucos cuidados,
que o alho não tem segredos,
o mistério está na cuia
presa na ponta dos dedos:
- água, água até fartar,
que ele não há de falhar!
XII
Toda manhã, toda tarde,
sempre, sempre, todo dia,
no espaço de quatro meses,
ou mais, se o caso exigia,
a vazante era a rotina
que o lavrador repetia,
de cuia firme na mão
na competente aguação!
XIII
De setembro para outubro
atinge o ponto ideal,
quando, então, é arrancado,
seguindo-se o ritual
de entrançá-lo com cabeças
de tamanho sempre igual,
uma estratégia de vendas
para melhorar as rendas!
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