quarta-feira, 24 de julho de 2013

O choro da sanfona


      O mundo da música está bem mais triste nessa noite de 23 de julho de 2013. Acabou de falecer o grande músico DOMINGUINHOS, legítimo herdeiro musical de Luiz Gonzaga e um dos grandes músicos do mundo, sem sombra de dúvidas. Após uma luta de 6 anos contra um câncer de pulmão, que se agravou nos últimos meses, o músico hoje resolveu que era a hora de se juntar à Luiz Gonzaga para iniciar um grande show de forró dos bons lá em cima.

     José Domingos de Morais nasceu em Garanhuns, no agreste de Pernambuco. Oriundo de família humilde, seu pai, mestre Chicão, era um conhecido sanfoneiro e afinador de sanfonas. Ainda criança, Dominguinhos tocava triângulo com seus irmãos no trio “Os três pinguins”. Quando ele tinha oito anos de idade, foi “descoberto” por Gonzagão ao participar de um show em Garanhuns. Foi Luiz Gonzaga quem lhe deu o nome artístico de Dominguinhos, pois achava que Neném não pegava bem. Aos 13 anos, morando no Rio, ganhou a primeira sanfona do Rei do Baião, que três anos mais tarde o consagrou como herdeiro artístico. “Em cinco minutos, ele me deu uma sanfona novinha, sem eu pedir nada”, declarou o próprio Dominguinhos numa entrevista ao portal G1, em 2012. Naquele período, Dominguinhos saiu em turnê com o mestre para cumprir a função de segundo sanfoneiro e, eventualmente, de motorista.

     Nos anos 50 e 60 ganhou a vida tocando boleros e sambas-canções em cassinos, gafieiras, dancing, churrascarias, boates e na Rádio Nacional, onde ingressou em 1964, ano em que gravou seu primeiro LP. Tornou-se famoso no meio musical e passou a ser convidado para gravações e turnês com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia. Como compositor também se destacou. Ao lado de Gil assina algumas composições, como "Lamento Sertanejo" e "Abri a Porta". Seus maiores sucessos foram "Tantas Palavras", com Chico Buarque, "De Volta para o Aconchego" (com Nando Cordel), gravada por Elba Ramalho e "Isso Aqui Ta Bom Demais". Gravou mais de 30 discos e compôs trilhas para cinema, firmando-se como compositor e sanfoneiro de prestígio. Ganhou quatro prêmios Sharp, um Grammy Latino, no ano de 2002, pelo CD CHEGANDO DE MANSINHO e um prêmio TIM, em 2007, de melhor cantor regional. Esse mesmo prêmio o homenageou em 2008 pelo conjunto de sua obra.
        
    O cantor e compositor Dominguinhos morreu às 18h desta terça-feira (23) no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O sanfoneiro lutava contra um câncer no pulmão e fazia sessões de quimioterapia havia seis anos. Segundo o boletim divulgado pelo hospital, a causa da morte foram "complicações infecciosas e cardíacas".O músico de 72 anos havia deixado a UTI após melhora da infecção respiratória e arritmia cardíaca no dia 13 e retornado à UTI no dia 15.Dominguinhos estava internado desde o dia 17 de dezembro. No dia 22 daquele mês, precisou passar por uma cirurgia para a colocação de um marca-passo cardíaco temporário por conta da arritmia. Neste período, o cantor foi submetido a uma traqueostomia e hemodiálise. Dominguinhos ficou sem sedação e, mesmo assim, não se comunicava com a família e médicos. No dia 8 de janeiro, ele sofreu uma parada cardíaca no hospital em que estava internado em Recife (PE). A pedidos dos familiares, no dia 13 de janeiro, Dominguinhos foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês em São Paulo. 

    Humildade. Depoimentos de quase todos os artistas famosos que conviveram com Dominguinhos e todos destacaram essa humildade contagiante do sanfoneiro, que se projetou na vida pelo seu talento, ganhando fãs com a beleza das suas músicas e o talento de fazer a sanfona chorar.
    “Ele era um exemplo de humildade sem tamanho. Tinha o dom de tocar bem e ter o pé no chão”, disse Oswaldinho do Acordeon. Nana Caymmi disse que Dominguinhos era uma pessoa iluminada.
    “Se você olha no rosto dele – disse Nana – enxerga aquele nordestino preocupado com a seca, preocupado com as coisas daquele povo tão sofrido do País. Cantar com Dominguinhos foi uma das coisas mais importantes da minha vida”.
    O mestre Dominguinhos iluminou muitas vidas através da sua música, do seu jeito especial de ser. Até o sorriso dele era diferente, bonito. Sem a sanfona de Dominguinhos, o Nordeste fica mais triste, mais pobre, órfão.
    Djavan disse que Dominguinhos era um músico extraordinário e seu talento plural permanecerá para sempre como uma das maiores referências da nossa música. Para Danilo Caymmi, Dominguinhos era completo: compositor de grande quilate, uma riqueza melódica difícil de encontrar hoje. Ele como melodista transcendia o som, a música nordestina.
    Dominguinhos não tolerava avião e percorreu o País inteiro de carro. Tenho impressão que não era nem por medo de avião, porque nas suas andanças, conhecendo as pessoas e os lugares, na verdade ele encontrava inspiração para tantas músicas bonitas que compôs.
    Como disse a cantora Sandra Sá, o mundo está sem palavras com a morte de Dominguinhos.

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