P O S T A L
Rua cheia,
cheia de gente;
de mulher bonita,
cada uma disputando o prêmio da nudez.
Rua cheia,
cheia de gente;
de homens apressados,
acossados pela trama da sociedade de consumo:
- precisam de mais, sempre mais, para o supérfluo.
Rua cheia,
cheia de gente;
de camelôs vendendo por nada um produto barato;
de bilheteiros vendendo a sorte grande que não vem:
- a loteria da própria vida.
Rua cheia,
cheia de gente;
em cada esquina, um pedinte,
em cada quadra, dez ou vinte.
“Como fede a miséria,
e como faz vergonha!”
Rua cheia!
Mais que de gente, cheia de tentações:
- anúncios de queimas,
anúncios de festas,
anúncios de jogos,
anúncios de nus - pintados,
coloridos,
berrantes - pequenos e grandes.
- Estardalhaço de o f e r t a s ! ! !
Na coroação suprema desse ardil comercial,
além da mensagem subliminar,
acintosamente permeando a propaganda de todos os produtos:
- o s e x o !
Como se a necessidade de a m a r
estivesse intimamente ligada à de c o n s u m i r .
A L E G O
R I A S D O N A T A L
(O Natal dos Pobres)
Natal!
Azáfama!
Cartões entulhando os guichês do Correio:
- amabilidades amáveis,
cumprimentos frívolos,
votos de Paz e Próspero Ano Novo.
Nenhuma emoção no impresso de luxo.
Comércio explorando,
vendendo o menino-jesus:
“Natal de amor,
Natal de paz,
Natal de tranqüilidade:
- compre tudo isto em CIMAIPINTO”.
Perus compondo banquetes,
cestas e vinhos,
árvores coloridas,
luzes multicores,
pisca-piscas cintilantes!!!
Festa,
alegria e riso
- sapatinhos nas janelas
esperando os presentes de um papai noel de ricos.
Do outro lado deste ouropel fantástico,
estômagos vazios,
pés sem sapatos para receber presentes,
pais sem emprego;
natal de desespero e de esperança mórbida,
para quem a estrela não guiou pastores,
e os reis magos não levaram ofertas,
e o menino - que não é jesus - chorou de fome
e de desilusão por não ter seu brinquedo.
E como se não bastasse,
a sociedade,
numa afronta à dignidade humilhada,
criou o “Natal dos Pobres”.
ROSAS DO ORVALHO
Por: João Bosco da Silva
Às portas dos Postos de Distribuição Gratuita,
dos Hospitais,
das Autarquias
ou dos Gabinetes
- Rosas do Orvalho, que a manhã viram nascer em luz! -
estão os miseráveis.
Às vezes acontece
(que tristeza!)
deixarem uma pedra marcando os seus lugares na fila,
mal o galo termina sua primeira cantiga da noite.
Chega a manhã rindo de sol
(eles chegaram com as trevas)
mas só bem mais tarde entrarão,
por uma porta especial,
chefes e atendentes
- treinados em relações humanas! -
aqueles que em breve os desenganarão com um
sorriso.
Corações de pedra,
ensaiada compaixão na voz,
não viram a multidão com a esperança nos olhos,
tampouco quererão saber que, algumas horas antes,
uma pedra indicava, numa fila sem fim,
o lugar daquela Esperança que agora se desvanece
ante a resposta fatal:
- “Lamento muito... volte no mês que vem”. *
* Hoje, 30
anos depois, esse “volte amanhã” poderá ser no ano que vem. As coisas
pioraram muito para essas ROSAS DO ORVALHO.
Peçamos por elas!
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