quinta-feira, 2 de março de 2017

“NÓS, POETAS DE 33” – JOANYR DE OLIVEIRA

Artigo Crítica Literária. Por Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras


A novidade do nosso artigo acontece no planeta Brasília. E não é de política que tratamos. Lá também tem literatura, escritores, antologias de poemas, e tudo muito bom, do mais alto nível. Recentemente me chegou às mãos “Nós, poetas de 33”, Ed. Thesaurus, 2015, Brasília – DF, uma coletânea de treze poetas, nem todos residentes em Brasília, mas todos nascidos no ano de 1933. É uma novidade, uma publicação interessantíssima. Reúne os poetas Fernando Mendes Viana, Francisco Miguel de Moura, Heitor Martins, Hugo Mund Júnior, Joanyr de Oliveira (organizador), José Jerônymo Rivera, Lupe Contrim Garaude, Maria José Giglio, Miguel Jorge, Murilo Moreira Veras, Octávio Mora, Olga Savary e Walmir Ayala. A maioria deles passaram por Brasília, na vida, viveram em Brasília por algum tempo, ou moram em Brasília, como é o caso de Anderson Braga Horta – que eu considero um dos três ou quatro maiores poetas vivos do Brasil. E ele faz a biografia crítica de Fernando Mendes Viana, o poeta que abre a antologia. Que belo ensaio! A nota introdutória é do organizador, Joanyr de Oliveira, falecido em 05.12.2009, sem ver publicada a coletânea de poetas em que tanto se esmerou, encarregando-se de tudo. É ainda de Anderson Braga Horta, um apêndice em que retrata o amigo, o poeta e seu trabalho. E é graças a Anderson que a obra foi editada, isto mostra a generosidade dos dois amigos e poetas: Joanyr de Oliveira – Anderson Braga Horta.

Claro que não vamos poder trazer a bio-bibliografia completa de cada um, muito menos de todos, mas são nomes conhecidos em todo o país desde a década de 60, século XX é claro, e até hoje continuam sendo editados, reeditados, falados, amados e antologiados. Eu diria que esta é a terceira antologia dos poetas da Geração 1960, de que fala a escritora Lygia Fagundes Teles (USP) e quem primeiro escreveu sobre a geração. Depois é que veio Pedro Lyra, com “A poesia da geração 60”, obra datada de 1995.

As orelhas da antologia “Nós, poetas de 33” são de responsabilidade de Kori Bolívia, Presidente da ANE (Associação Nacional de Escritores). E ela registra: “Neste momento, completando cinco anos do falecimento de Joanyr, a Associação Nacional de Escritores, da qual ele foi sócio, fundador e presidente, sente-se orgulhosa por poder compartilhar seu respeito e seu amor pela poesia. Ao lado da Editora Thesaurus, a ANE faz questão de homenagear o poeta mineiro, o professor, o advogado, o funcionário público, o pastor, o membro da Academia de Letras do Brasil, da Academia Evangélica de Letras (RJ), da Writers International Association (EUA), da Academia de Letras de Brasília, da Academia de Letras de Taguatinga e do Instituto Histórico e Geográfico do DF”.

Anderson Horta escreveu, na última capa, que Joanyr de Oliveira foi um grande trabalhador literário. Além de sua consagração como poeta, publicou contos e um romance, escreveu crônicas que foram lidas na imprensa radiofônica, manteve colunas literárias na imprensa, dirigiu revistas, ajudou a criar academias. Pode-se dizer que alcançou também posição ímpar como antologista de poesia.

Não o tendo conhecido em pessoa, lembro que mantivemos correspondência e troca de livros durante anos. Tomei conhecimento dele através da ANE, depois recebi convite para participar desta Antologia. Não me lembro bem como se deu a seleção de meus poemas. Mas lhe credito o mérito da escolha entre os livros que eu publicara e foram enviados a ele. Gostei imensamente da seleção e recomendo-a para outras publicações. As seleções dos poemas dos demais participantes também são boas. Pelo que sei, não houve preferência entre os poetas que reuniu, visto que o comparecimento à antologia obedece rigorosamente à ordem alfabética. Fiquei em segundo lugar, mas acho mesmo que Fernando Mendes Viana era o poeta do momento em Brasília, talvez no Brasil. Pelo critério adotado, ganhou a abertura do livro. É um grande poeta. Dele, disse Anderson Braga Horta: “A poesia de Fernando Mendes Viana nasceu sob o signo da liberdade e sob esse mesmo signo floriu e frutificou. (…) Poesia de instrumentação forte e voz veementemente humana, transfunde-se no corpo verbal adequado a seu profundamente atual – porque eterno - pensar e sentir os problemas do homem, enquanto ser único e enquanto célula social, mas recusa-se a quaisquer semostrações pseudovanguardistas (…) Isto leva Mendes Viana, desde o primeiro livro, a discernir no poeta um ser prometeico, luciferino: um demiurgo, sim, mas um rebelado, orgulhoso em sua titânica solidão (ver, a propósito, os poemas ‘Lúcifer – a Grande Lua’ e ‘Auto-Epitáfio do Senhor da Noite’)” - eis aqui um trecho da apreciação de Anderson Braga Horta.

O planeta Brasília, com a ANE – Associação Nacional de Escritores – congregando poetas do nível dos antologiados por Joanyr de Oliveira - pode equiparar-se aos grandes centros do Sul-Sudeste, em cultura e compreensão da vida, do amor, da arte, de tudo quanto completa o ser humano na sua luta incessante para a grande aventura de afirmação.

Por fim, o livro nos contempla com uma relação dos poetas brasileiros nascidos em 1933. Pelo enorme espaço que ocupa, tomando duas páginas, citarei apenas alguns dos mais conhecidos: Nelson Saldanha (Recife-PE), Carlos Cunha (São Luís-MA), Mário Chamie (São Paulo-SP), Silveira de Sousa (Florianópolis-SC), Armindo Trevisan (Santa Maria – RS), Álvaro Pacheco (Jaicós – PI) e Nogueira Moutinho (São Paulo - SP).

Depois de o mestre Wilson Martins confirmar a falta do nascimento de novas Escolas Literárias e estabelecer a divisão, de agora em diante, por Gerações, a História da Literatura Brasileira vai no rumo certo. E a “Geração 60” contém todos os defeitos e qualidades de uma geração das mudanças que ocorrerram na vida social, continuamente e tão diversas. Mas é uma geração na qual permanecem os princípios da arte: a forma e o conteúdo como instrumentos para mostrar uma realidade tão conflitante e tão mutável, num conjunto de poetas e poemáticas que conservam o grande sentido da arte: reinventar a vida, a realidade. Ou seja: renovar sem esquecer o passado.

Toda essa direção está nas antologias que conheço e, como tal, em “Nós, poetas de 33”, de Joanyr de Oliveira. Que outras antologias surjam da nossa geração, para perpetuá-la ainda mais. Brasília já deu seu recado.

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