Artigo Crítica Literária. Por Francisco Miguel
de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras
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A novidade do
nosso artigo acontece no planeta Brasília. E não é de política que tratamos. Lá
também tem literatura, escritores, antologias de poemas, e tudo muito bom, do
mais alto nível. Recentemente me chegou às mãos “Nós, poetas de 33”, Ed.
Thesaurus, 2015, Brasília – DF, uma coletânea de treze poetas, nem todos
residentes em Brasília, mas todos nascidos no ano de 1933. É uma novidade, uma publicação
interessantíssima. Reúne os poetas Fernando Mendes Viana, Francisco Miguel de
Moura, Heitor Martins, Hugo Mund Júnior, Joanyr de Oliveira (organizador), José
Jerônymo Rivera, Lupe Contrim Garaude, Maria José Giglio, Miguel Jorge, Murilo
Moreira Veras, Octávio Mora, Olga Savary e Walmir Ayala. A maioria deles
passaram por Brasília, na vida, viveram em Brasília por algum tempo, ou moram
em Brasília, como é o caso de Anderson Braga Horta – que eu considero um dos
três ou quatro maiores poetas vivos do Brasil. E ele faz a biografia crítica de
Fernando Mendes Viana, o poeta que abre a antologia. Que belo ensaio! A nota
introdutória é do organizador, Joanyr de Oliveira, falecido em 05.12.2009, sem
ver publicada a coletânea de poetas em que tanto se esmerou, encarregando-se de
tudo. É ainda de Anderson Braga Horta, um apêndice em que retrata o amigo, o
poeta e seu trabalho. E é graças a Anderson que a obra foi editada, isto mostra
a generosidade dos dois amigos e poetas: Joanyr de Oliveira – Anderson Braga
Horta.
Claro que não
vamos poder trazer a bio-bibliografia completa de cada um, muito menos de
todos, mas são nomes conhecidos em todo o país desde a década de 60, século XX
é claro, e até hoje continuam sendo editados, reeditados, falados, amados e
antologiados. Eu diria que esta é a terceira antologia dos poetas da Geração
1960, de que fala a escritora Lygia Fagundes Teles (USP) e quem primeiro
escreveu sobre a geração. Depois é que veio Pedro Lyra, com “A poesia da
geração 60”, obra datada de 1995.
As orelhas da
antologia “Nós, poetas de 33” são de responsabilidade de Kori Bolívia,
Presidente da ANE (Associação Nacional de Escritores). E ela registra: “Neste
momento, completando cinco anos do falecimento de Joanyr, a Associação Nacional
de Escritores, da qual ele foi sócio, fundador e presidente, sente-se orgulhosa
por poder compartilhar seu respeito e seu amor pela poesia. Ao lado da Editora
Thesaurus, a ANE faz questão de homenagear o poeta mineiro, o professor, o
advogado, o funcionário público, o pastor, o membro da Academia de Letras do
Brasil, da Academia Evangélica de Letras (RJ), da Writers International
Association (EUA), da Academia de Letras de Brasília, da Academia de Letras de
Taguatinga e do Instituto Histórico e Geográfico do DF”.
Anderson Horta
escreveu, na última capa, que Joanyr de Oliveira foi um grande trabalhador
literário. Além de sua consagração como poeta, publicou contos e um romance,
escreveu crônicas que foram lidas na imprensa radiofônica, manteve colunas
literárias na imprensa, dirigiu revistas, ajudou a criar academias. Pode-se
dizer que alcançou também posição ímpar como antologista de poesia.
Não o tendo
conhecido em pessoa, lembro que mantivemos correspondência e troca de livros
durante anos. Tomei conhecimento dele através da ANE, depois recebi convite
para participar desta Antologia. Não me lembro bem como se deu a seleção de
meus poemas. Mas lhe credito o mérito da escolha entre os livros que eu
publicara e foram enviados a ele. Gostei imensamente da seleção e recomendo-a para
outras publicações. As seleções dos poemas dos demais participantes também são
boas. Pelo que sei, não houve preferência entre os poetas que reuniu, visto que
o comparecimento à antologia obedece rigorosamente à ordem alfabética. Fiquei
em segundo lugar, mas acho mesmo que Fernando Mendes Viana era o poeta do
momento em Brasília, talvez no Brasil. Pelo critério adotado, ganhou a abertura
do livro. É um grande poeta. Dele, disse Anderson Braga Horta: “A poesia de
Fernando Mendes Viana nasceu sob o signo da liberdade e sob esse mesmo signo
floriu e frutificou. (…) Poesia de instrumentação forte e voz veementemente
humana, transfunde-se no corpo verbal adequado a seu profundamente atual –
porque eterno - pensar e sentir os problemas do homem, enquanto ser único e
enquanto célula social, mas recusa-se a quaisquer semostrações
pseudovanguardistas (…) Isto leva Mendes Viana, desde o primeiro livro, a
discernir no poeta um ser prometeico, luciferino: um demiurgo, sim, mas um
rebelado, orgulhoso em sua titânica solidão (ver, a propósito, os poemas
‘Lúcifer – a Grande Lua’ e ‘Auto-Epitáfio do Senhor da Noite’)” - eis aqui um
trecho da apreciação de Anderson Braga Horta.
O planeta
Brasília, com a ANE – Associação Nacional de Escritores – congregando poetas do
nível dos antologiados por Joanyr de Oliveira - pode equiparar-se aos grandes
centros do Sul-Sudeste, em cultura e compreensão da vida, do amor, da arte, de
tudo quanto completa o ser humano na sua luta incessante para a grande aventura
de afirmação.
Por fim, o livro
nos contempla com uma relação dos poetas brasileiros nascidos em 1933. Pelo
enorme espaço que ocupa, tomando duas páginas, citarei apenas alguns dos mais
conhecidos: Nelson Saldanha (Recife-PE), Carlos Cunha (São Luís-MA), Mário
Chamie (São Paulo-SP), Silveira de Sousa (Florianópolis-SC), Armindo Trevisan
(Santa Maria – RS), Álvaro Pacheco (Jaicós – PI) e Nogueira Moutinho (São Paulo
- SP).
Depois de o
mestre Wilson Martins confirmar a falta do nascimento de novas Escolas
Literárias e estabelecer a divisão, de agora em diante, por Gerações, a
História da Literatura Brasileira vai no rumo certo. E a “Geração 60” contém
todos os defeitos e qualidades de uma geração das mudanças que ocorrerram na
vida social, continuamente e tão diversas. Mas é uma geração na qual permanecem
os princípios da arte: a forma e o conteúdo como instrumentos para mostrar uma
realidade tão conflitante e tão mutável, num conjunto de poetas e poemáticas
que conservam o grande sentido da arte: reinventar a vida, a realidade. Ou seja:
renovar sem esquecer o passado.
Toda essa
direção está nas antologias que conheço e, como tal, em “Nós, poetas de 33”, de
Joanyr de Oliveira. Que outras antologias surjam da nossa geração, para
perpetuá-la ainda mais. Brasília já deu seu recado.